segunda-feira, 7 de abril de 2008

Words don't come easy

Em breve, a bomba vai rebentar. Até ao final do ano será aprovado o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa que pretende a unidade da Língua na escrita. As modificações propostas no Acordo devem alterar 1,6 por cento do vocabulário de Portugal e 0,45 por cento no Brasil, imaginem em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Vasco Graça Moura (espécime que nesta vida só não será contra a mãe) já afirmou que «a adopção do Acordo redundará em total benefício do Brasil». Já imaginaram a tinta que vai correr nos jornais? Conseguem antever as manifestações no Marquês de Pombal? E de quem é que vai ser a culpa? Do Sócrates, claro está. Do que andei a investigar digo já que 1,6 por cento pode até não ser muito em termos de descida do IVA, mas é definitivamente muito em alteração de palavras. Os «h» mudos vão cair qual folhas no Outono, passaremos a escrever por exemplo “úmido”. Desaparecem também da actual grafia o «c» e o «p» nas palavras em que estas letras não são pronunciadas, como em «infeção», «atualidade» ou «acionar», «apocalítico», «adotar» ou «respetivamente». As terminações verbais «êem» deixam de ser acentuadas e teremos «creem», «deem», «leem». As formas monossilábicas do verbo haver perdem o hífen como em «hei de», «hás de», «há de», «hão de». A palavra «fim-de-semana» também fica sem hífen. Meses e estações do ano passam a escrever-se com letra minúscula. E o alfabeto passa a ter 26 letras com a inclusão do «K», o «Y» e o «W». Agora, elevem as mãos à cabeça e exclamem “Meu Deus!”, mas não se esqueçam que também já escrevemos «pharmacia” e que já pagámos em escudos.

Eu sinceramente acho muito bonito que se defenda a língua, ainda que saiba que a ortografia sofreu mudanças fabulosas desde o Testamento de D. Afonso II, em 1214, até à Biografia da Carolina Salgado, em 2007. Estou preocupada é com o processador de texto. Quem é que me vai pagar a nova versão do Word com a ortografia actualizada? O Sócrates ou o Lula?

12 comentários:

Manana disse...

O povo é que faz a norma e no Brasil há mais povo, realmente. Mas fomos nós que levámos para lá o Português e, como o próprio nome indica, o Português é de Portugal e isso chateia o meu pequeno patriotismo...phoda-se!

Lek disse...

A nova versão com ortografia actualizada ...digo atualizada, vai ser uniformemente aceite e suportada de bom grado pelos fabricantes de software, isto é um facto ...digo um fato. Estes até aplaudem o acordo uma vez que tende a fazer com que acabe dupla versão Português + Português (do Brasil) e passe a existir apenas uma única.
O sócrates não usa computadores e o Lula duvido que saiba do que se trata.

Anónimo disse...

Companheiros,
apesar das previsíveis manifestações de escândalo dos meses vindouros parece quase certo que o que vai suceder será uma coexistência pacífica inter-geracional. Os pharmaceuticos não deixaram de o ser de um momento para o outro. As evoluções linguísticas não se implementam por decreto, mas sim a longo prazo através da prática quotidiana e, acima de tudo, do ensino das novas gerações.
Um grande bem haja

L. disse...

Mas, mas... o que será dos almoços com colegas?
Será que ler 'hoje à xoco frito' escrito na ementa dos restaurantes vai deixar de ser motivo de risota?

Por mim, ainda escrevíamos farmácia com 'ph' e Luís com 'z'...

Happinêss disse...

E Inez, uau.... que cagança!!! Se bem que Happinêzz não fica lá muito bem =)

Leila, não te preocupes porque se há duas coisas de que eu tenho a certeza na vida é que vamos todos morrer e continuar a escrever mal no ramo da "tasquaria"! Vivó bife á casa! Viva as muelas e o cosido e as costletas!

Anónimo disse...

Porque este assunto é-me muito querido, permitam-me alimentar alguma discórdia.
A língua que falamos, a sintaxe a que neste preciso momento recorro, não é a mesma de Camões; e, no entanto, Camões é Portugal. Porquê? Porque não um Rei? (porque não o próprio D. Afonso Henriques que, antes de qualquer outro, nos fez nascer?)! Para – mais do que um símbolo – sinónimo de Portugal, escolheu-se um homem que foi ourives de palavras, e acho que isto não é por acaso: a nossa língua é a nossa pátria (a nossa, mátria, se preferirem), a nossa identidade. É verdade que a língua não é a mesma que se falava no séc. XII, mas também sabemos que a ortografia altera-se após (não antes!) das alterações fonética. Foi assim que pharmacia passou a escrever-se com F. É o povo que, após muita teimosia, leva a que bué apareça no dicionário e nenhum D.L. terá jamais este Poder.
Sem qualquer purismo radicalista (a História já nos ensinou a recusar estas filosofias extremistas), lamento ver a nossa identidade trocada por um objectivo unificador que nunca existirá (os portugueses não vão passar a dizer banheiro e onibus em vez de casa-de-banho e autocarro), e a nossa língua sacrificada apenas na vertente europeia, porque para os brasileiros fica tudo na mesma, né não? (Porque é que somos nós a adoptar o acento circunflexo na palavra Tênis e não são os brasileiros a acentuar Ténis???) Ah, e ninguém perguntou o que acham disto os PALOPS e timorenses!

Happinêss disse...

Rodrigo, segundo sei, nós não vamos adoptar o aceno circunflexo na palavra ténis e para os brasileiros não ficará TUDO na mesma, também o seu português sofrerá alterações em 0,45%. Esta discussão duraria horas. Eu penso que Portugal está preparado para esta alteração. Como sabes, estas questões também me são muito queridas, mas a verdade é que muitas alterações vão dar um jeito danado às novas gerações, que parecem ter-se adiantado ao acordo, escrevendo, já, em serviços virtuais segundo a futura norma =)Das regras todas, confesso, aqui, e linchem-me se quiserem, vai me dar um jeito imenso a queda do "-" em "hão de"porque não acho sequer bonito "hão-de". E, por mim, podiam também mandar abaixo o travessão que separa o verbo do clítico (pronomes apêndices) "faz-me bem" e passar a escrever "faz me". Quem recebe sms's minhas, sabe que eu não uso o dito =) por comodismo, obviamente! Eu adoro a minha língua, Amo-a! Mas ela é extremamente complicada e difícil, logo, sou a favor de algumas alterações propostas.

Estou pronta para o linchamento!

Lek disse...

o quê? Pingolim? Aeromoça??! pênis? ou tênis? Amar a lingua? Quem? O quê? Onde?

R2D2 disse...

Eu estou deveras fodido com esse acordo. A razão principal razão é acreditar que chegar a um acordo com os brasileiros é indicador de sub-desenvolvimento. Preferia que os nossos acordos fossem com paises como a Suiça, Dinamarca ou mesmo a Suazilândia. A somar a isto tudo, entristece-me que fiquemos sempre a perder nos acordos que fazemos e, convenhamos, 0,45% a 1,60% cheira-me a "bigode".
Nada que eu não estivésse à espera, primeiro tomaram-nos a Costa da Caparica, agora roubam-nos a língua. Espero, ao menos, que dê para escolher a brasileira que me vai roubar.
A unica vantagem que vejo nisto tudo é que sempre sonhei ter uma filha chamada Madinusa, e por este caminho vai passar a ser legal.

E eu disse "legal" numa perspectiva de pura economia de escala: "legal" de "fixe" e "legal" de " ao abrigo da lei".

Lek disse...

A lingua é uma phoda!
Eu que nem nunca consegui provar lingua estufada (dizem que é um petisco) já gosto da lingua enrolada uma na outra. Dá-se-me assim uns arrepios fixes.
Se o Mário Mata,
a Florbela Espanca,
o Jaime Gama
e o Jorge Palma,
o que é que a Rosa Lobato Faria?

E, já agora:

Talvez a Zita Seabra para o António Peres Metello...

olivia disse...

Eu até concordo com actualizações na língua, mas chegarem virem 2 bobos - eleitos democraticamente, certo, não obstante bobos! - dizerem como é que mudo é que está mal! A mim irrita-me particularmente a quedas dos hs mudos... úmido "soa" tão mal... e a queda dos cs ditos mudos... por exemplo... nós dizemos faCto, por isso continuaremos a escrever facto ou lavamos com o fato dos brasileiros?
é gente como eu pode perder o emprego à conta deste acordo sr sócrates. e com estas leis laborais cada vez mais liberais - a.k.a o m'xilhão é que se phode -nem sequer vou ter subs. de desemprego porque estou a recibos verdes (embora dê ao estado mais de 1000€ por mes!!:P)

Happinêss disse...

Todas as palavras em que Nós pronunciamos os "c" ou "p", continuaremos a escreve-las. Se dizemos "facto consumado", escrevemos "facto consumado"; mas se dizemos "atriz", sem pronunciar o "c", então, ele cai! O acordo têm um forte carácter (caráter) facultativo, isso é que vai aborrecer... porque vão surgir cagões a dizer: "na, na, eu digo aCtriz", logo escrevo assim. E cá para nós, ninguém diz aCtriz.

Madinusa é um nome bonito, r2d2. Se tiveres gémeas, serão inclusivamente "Marinusa 1" e "Marinusa2", não é? =)

Sim, Olívia, os recibos são phodidos e adorei a do "m'xlhão"!