segunda-feira, 31 de março de 2008

Greenwich

Desliguei o computador, vesti o casaco e disse até amanhã. A meio do percurso quase inverti a marcha em penalty, cruzando de volta as estradas que me conduzem ao trabalho em direcção à minha secretária. Teria saído mais cedo? Que desculpa inventaria? Nem sei que me deu, simplesmente fui embora. Naquele instante em que me atestei em dúvidas o sol batia com tanta intensidade nos meus óculos escuros que baixei a paleta, esperneando-me e estalando toda a coluna para conseguir a protecção necessária. Tudo estava mais claro. Os condutores pareciam fantasmas de brancos que estavam e os carros nunca foram tão metalizados. O sinal verde mal se distinguia do vermelho. Os transeuntes franziam dolorosamente a testa descortinando se aquele seria o 35 ou o 76 . Foi agressivo, confesso, voltar a ver a luz. Mas sabe melhor assim.

A hora mudou.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Day after, logo existo


Moby lança na próxima semana o álbum Last Night. Numa entrevista e no seguimento do clássico “Gosta de Portugal?”, respondeu:

“(…) Portugal é definido pelo oceano. Apesar da vizinhança com Espanha, foi um país que se voltou para o mar. Acho sempre os portugueses pessoas muito reflexivas e filosóficas”.

Eu penso que sei aquilo a que se refere. Quando vou de férias para o Algarve e me sento naquela esplanada aberta para o mar a beber aquela água das pedras em dia de ressaca, toda eu sou reflexão e filosofia, fénix, não sei se foram as caipirinhas ou os shots que me caíram mal…

quarta-feira, 26 de março de 2008

Nunca vi bolacha assim

Coincidindo com os vinte anos de vida artística, Tony Carreira lançou ontem A vida que eu escolhi, a sua obra autobiográfica. Sem sequer ter lido a badana, método aliás muito utilizado na crítica literária, em Portugal, por ilustres como Marcelo Rebelo de Sousa ou Vasco Pulido Valente, sei de uma passagem onde revela que, ao longo da infância e adolescência, o artista recebia como prenda de Natal um pacote de bolachas Maria. Tony, fosse eu tua vizinha em Armadouro* e dizia aos teus familiares para alternarem a bolacha Maria com a bolacha Torrada. Eu própria te ensinaria a espetar um bife de marmelada entre duas Torrada, mostrando-te o sentido da vida.


*Pampilhosa da Serra

terça-feira, 25 de março de 2008

Uma verdade inconveniente

Dia 20 de Março, início oficial do Inverno.

quinta-feira, 20 de março de 2008

And here's to you, Mrs. Robinson

Sábado à noite vi The Graduate, A Primeira Noite, um filme realizado por Mike Nichols, em 1967, que lhe valeu o Óscar de melhor realizador nesse ano, protagonizado por Dustin Hoffman e Anne Bancroft. Ora, se 7 e7 são 14 com mais 7 são 21, The Graduate tem 41 anos.

Benjamin Braddock (Hoffman), um jovem de 21 anos recém-licenciado, deixa-se seduzir por uma mulher mais velha (Bancroft, que na vida real era somente seis anos mais velha), amiga de longa data de seus pais, com quem mantém um caso por tempo determinado e por cuja filha se apaixona após o fim do transitório affair, que dá o mote ao conflito. À primeira vista, parece qualquer coisa que já passou no quarto canal, mas não. Inúmeras são as cenas que ficaram para a história do cinema, como o longo plano do perfil de Ben, no tapete rolante do aeroporto, ao som de The Sound of Silence, de Simon & Garfunkel. Ou a cena em que Ben atrapalhadamente virgem questiona as intenções de Mrs. Robinson, enquanto esta fuma sedutoramente um cigarro de perna traçada: “Mrs. Robinson, are you trying to seduce me?”. Ou aquela em que Mrs. Robinson trava de um cigarro, ele beija-a e só depois do beijo o fumo é soprado. Ou as introspecções de Ben no fundo da piscina. Ou a cena final em que Ben irrompe pela igreja onde, segundos antes, Katherine, a filha, casara e juntos fogem num autocarro, sem rumo. Ao longo do filme, podemos ouvir os mais famosos temas da dupla Simon & Garfunkel, seja Mrs. Robinson, The Sound of Silence ou Scarborough Fair.
Um clássico.
Yes, I am trying to seduce you.

terça-feira, 18 de março de 2008

Boneco de luxo

O Manneken Pis é uma atracção célebre em todo o Mundo. Esta pequena estátua de um rapaz com apenas 30 cm de altura a urinar para um pequeno tanque é uma imagem tão típica de Bruxelas como o quadro do menino da lágrima nas casas dos nossos avós, o quadro da Última Ceia na sala de jantar dos padrinhos, os dois leões laterais na vivenda dos nossos emigrantes ou os Dálmatas de porcelana no hall da casa dos tios-avós.

Eu estive lá e vi. Mas gostei mais da cerveja branca e das trufas de chocolate.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Sweet dreams aren’t made of this

Já tive sonhos bizarros e sonhos extremamente bizarros, mas nunca tinha tido um sonho assustadoramente bizarro. Não estou a falar daquele clássico em que vamos um mês de férias para a Polinésia Francesa e quando desembarcamos estamos afinal em Benidorm e sem as nossas malas que ficaram algures no porão de um avião que aterrou no Bangladesh. Esse é só bizarro. Extremamente bizarros eram os sonhos que eu tinha na véspera dos testes de Latim. No sonho, tinha andado a estudar a semana toda, sabia as declinações e as conjugações de cor, traduzia Horácio como quem folheia a Nova Gente e o ablativo absoluto tratava-o por tu. Na manhã do exame, esquecia-me do dicionário que, num teste de latim, é mais trágico que o noivo não comparecer ao seu casamento, as declinações eclipsavam-se do meu cérebro e o tempo passava sem que tivesse saído da primeira pergunta. Assustadoramente bizarro foi eu ter sonhado, a noite passada, que estava em trabalho de parto. Brincadeiras à parte, o sonho parecia mais real que a guerra no Iraque. Eu tinha uma barriga considerável e dava então entrada no hospital cujas instalações pareciam os pavilhões da provisória Belém-Algés (esta é só para aqueles que sabem do que estou a falar). “D. Inês, está preparada?”, perguntava a enfermeira. “Senhora enfermeira, mas eu ainda não senti nenhuma contracção…”, retorquia eu. “Ah, não me está a querer enganar, está?! Isso é só medo de enfrentar o parto! Já lhe passa!”, ironizava ela com cara de Jack Nicholson no The Shining.

Pode?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Calças comigo?


Eu sabia que protegia o ambiente, só não sabia como. A Organização das Nações Unidas lançou um videoclip de sensibilização aos jovens para a protecção do planeta.

Usa os teus jeans pelo menos três vezes, lava-os a frio, seca-os ao ar e esquece o ferro: é cinco vezes menos energia consumida!

Esta é uma política que eu sigo há muitos anos, sobretudo aquela ali do “esquece o ferro”, política que faço inclusivamente tensões de continuar a seguir não só para as calças como para a roupa em geral. Fiquei ainda mais contente por saber que não só sou amiga do ambiente, como sou amiga do peito e também camarada. É que eu desconfio que chego a ficar três meses sem lavar calças de ganga, o que para as três vezes que o videoclip declara, é significativo.

Nota: Secalhar devo dizer que não tenho um, nem dois, nem três pares de calças, só para não começarem a recusar sair comigo.

terça-feira, 11 de março de 2008

Da Secura

Lá fomos todos lampeiros ver The Cure ao Atlântico. A banda revisitou os clássicos por que todos esperávamos ouvir, alternado com músicas menos familiares e outras do novo álbum, ainda por lançar. Em concerto, ouvir músicas de um álbum que ainda não contactou com a atmosfera está tal e qual para aquele filme que varreu os Óscares e que nós não vimos, porque não estreou: já gostamos, embora não saibamos porquê. A voz do Robert Smith não envelheceu um pouco que fosse, está tal e qual como quando ele descobriu que a tinha, que terá sido justamente no dia em que descobriu rímel dentro da mala da tia. Ali tocaram 3 horas de músicas, sendo que a última viveu dos 3 encore que certamente esperavam acontecer. Como disse o Rico “epah, é melhor irmos embora senão ele canta até às cinco da manhã!”. Mas a noite não foi só de cura. É inadmissível que no Pavilhão Atlântico não tenham montado dois écrans colossais, para que aqueles a quem a mãe-natureza deixou somiticamente ficar pelo metro e sessenta pudessem ver. Imperdoável é a fila para a cerveja chegar até ao Marquês de Pombal e os fãs dos Cure se misturarem com os não menos góticos professores. Estar num concerto sem cerveja é como fazer acupunctura sem agulhas. O que vale é que temos espírito de camaradagem e uma cerveja rodou por cinco. Faz-nos bem saber aquilo por que os judeus passaram. Lei seca à parte, voltava a repetir a experiência. Só de relembrar aqueles acordes de Boys Don’t Cry, dá-me vontade de ir buscar as Dr. Martens ao sótão.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Just like heaven

É já no Sábado que estes senhores se deslocam ao Altantic para dar aquele que eu penso que será o melhor concerto do ano. Eu ainda nem fraldas usava quando eles se estrearam, mas assim que passei para as Dodot etapa 3, já cantarolava Boys Don't Cry. Até estou a pensar ir à look gótico. Se os meus pais deixarem, claro.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Querido, mudei a casa


A partir de hoje é possível fazer obras em casa sem licença. Meus amigos, é o fim de uma das 457 milhões de burocracias em Portugal! Para comemorar, assim que chegar a casa vou partir a parede que separa o meu quarto da casa-de-banho. Sempre sonhei ter uma suite.