We will always have… Tokio
Parte I
Em Janeiro de 2004, fui ao cinema ver um filme pelo qual viria a ter uma grande pancada, daquelas bordoadas valentes. Sofia Coppola escrevera e realizara o filme da minha vida – Lost in Translation, que em Português levou o perfeito apêndice de O Amor é Um Lugar Estranho. Numa semana fui ver o filme três vezes, trocando as aulas de latim teórico pelas sessões no Monumental. A lendária história de Rómulo e Remo, esses dois irmãos que mamaram das tetas da loba e se tornaram os fundadores da cidade de Roma, havia sido destronada pela história de Bob e Charlotte, dois estranhos conterrâneos de sexos opostos que fizeram de uma semana enfadonha e solitária a mais surpreendente das suas vidas. No escuro do cinema, a narração de Sofia inebriara-me por motivos que, durante quilómetros de semanas, nem sequer sabia explicar. Hoje acho que terá sido pela forma como foi despretensiosamente contada. Vou deixar-me de tretas, terá claramente sido pela sôfrega, porém contida forma como um homem com passado e uma mulher por entre os passos da construção desordenada de um presente incerto, tão bem comunicaram numa Tóquio cosmopolita linguisticamente impenetrável. A história, todos conhecem. O sake nunca soube tão bem. Os The Jesus and Mary Chain nunca estiveram tão vivos. E a cena do inaudível sussurro final permanecerá uma interrogação pendente, que seguramente, no fundo, pouco pertinente será.
Parte II
Há um ano e meio, após ter sido brindado por mim com o filme e na tentativa de compreender a minha grande pancada de bordão pelo mesmo, o Lek viu-o. Pouco ou nada comentou, mas o que fez foi brilhante, ou não tivesse ele alma de curioso varrido. O resultado é o que se segue. E, apesar de acima ter dito que a decifração não é de todo pertinente, a sugestão não deixa de nos colocar um enorme sorriso. O final é da Sofia, a interpretação e consequente legenda é do Lek.